Article
Portuguese
ID: <
10.4000/carnets.5868>
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DOI: <
10.4000/carnets.5868>
Abstract
A posteridade literária bem o conhece, é verdade, em razão de seu grande nariz. Entretanto, tal nariz o permitiu farejar em conhecimento de causa algumas questões ligadas ao literário que são eminentemente modernas, e que chegam mesmo a ultrapassar o registro das Belas Letras do século XVII. Como negar, por exemplo, que os Les Entretiens Pointus lançam a suspeita sobre o unitário da verossimilhança dos gêneros icásticos? Como não reconhecer em L’Autre Monde, que projeta o leitor em estados que não são mais aqueles desse mundo terreno, a exuberância da lua e do sol literários mergulhados no genus phantasticum, em franca oposição, uma vez mais, ao gênero icástico? Esse artigo dá-se como objetivo percorrer os textos de Cyrano de Bergerac procurando ali sublinhar os elementos constitutivos de uma poética da ficção plenamente apoiada sobre a oposição, ora direta ora indireta, entre mimesis icástica tal qual concebida por Platão no Sofista e mimesis fantástica, oposição esta que abre o debate literário nesse século XVII percorrido pelas querelas sobre as possibilidades de uma ficção liberta dos cânones clássicos.