Article
English, Spanish, French, Portuguese
ID: <
oai:doaj.org/article:81b95dbeb567443ab87284ebcd964162>
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DOI: <
10.1590/2178-2547-bgoeldi-2020-0127>
Abstract
Resumo Estudos etnomusicológicos recentes sobre as flautas xinguanas revelam sistemas de extraordinária complexidade sociológica, simbólica e sonora, abrangendo poética musical, relações de gênero, ontologia política e agência cosmológica. Entretanto, pouco se conhece sobre suas identidades espirituais específicas e as implicações de tais identidades para a economia simbólica dos rituais musicais. O objetivo deste artigo é oferecer uma contribuição ao conhecimento do instrumentarium zoologica Amazonia a partir dos xamanismos musical e visionário-divinatório wauja. O objeto central da minha análise é um trio de flautas de madeira, feito em 1991 e ainda atuante, que tem o jaguar como identidade espiritual e cuja identificação decorre de processos xamânicos. Essa relação entre aerofones e jaguares aponta para o modelo teórico, recentemente proposto, da continuidade ontológica entre seres sobrenaturais e artefatos na Amazônia. Embora a organologia e a materialidade sejam importantes para o entendimento dessa relação, há, porém, um aspecto ainda pouco considerado por esse modelo: a visualidade. Este artigo propõe avançar a hipótese de que a atribuição de identidades espirituais aos aerofones tem uma relação direta com o modo como as transformações corporais são imaginadas pelos xamãs.